quarta-feira, 2 de setembro de 2015



​“Contrariando o Ego em meio à Dúvida do Tempo”

Mostra fotográfica confidencia uma Salvador intimista, envolta em uma atmosfera lírica




O ego e o tempo são os invólucros por onde uma Salvador reclusa nas lembranças e na vaidade se revela singular e forte na total ausência de cores.  E é justamente pela forte presença dos contornos preenchidos pelo preto e branco, que a mostra fotográfica, “Contrariando o Ego em Meio a Dúvida do Tempo”, do artista visual e jornalista Fábio Salmeron, se apresenta aos olhos do observador, a partir de 02 de setembro, às 18h30, na galeria Canizares, prosseguindo até o dia 15, para visitação.

Na mostra o público terá contato com 22 fotografias da cidade do Salvador, que se desdobram em mais de 65 imagens, devido a reutilização artística em diferentes suportes técnicos que se dividem em seis ambientes distintos. “Essa é uma forma criativa, fruto de um trabalho de investigação artística, com o intuito de apresentar as mesmas imagens, só que em tamanhos, recursos e estéticas diferenciadas, propondo outros olhares e sensações visuais, a partir do momento que histórias são contadas, tendo como princípio as características intrínsecas que estão reveladas no papel fotográfico. O que se vê, nos revela algo novo a cada novo olhar.”

As fotografias são todas analógicas, em filme negativo, dentro de um processo de anos de pesquisa do artista que utiliza filmes em P/B vencidos, fora do prazo de validade e que seriam descartados, para realizar um trabalho em que são privilegiados o olhar em torno do objeto retratado e o resultado obtido através dos compostos químicos já deteriorados, levando em conta o clima da cidade e os locais que seriam focados, dentro de uma poética criada em torno de uma narrativa, cuja temática era a cidade de Salvador.

A proposta dos ambientes é criar uma relação de continuidade entre as imagens, sem fugir ao tema central da exposição, que fala do Ego segundo a psicanálise em confronto direto com o Id(Eu), que se recente em questionamentos relacionados aos sentimentos e sensações humanas, a exemplo da vaidade, egocentrismo e os desejos, muitas vezes contrariados. A cidade do Salvador é a materialização desses impulsos, traduzidos metaforicamente em cada imagem exposta. O Ego Contrariado revela-se aos olhos de todos, questionando e nos provocando internamente.

Por outro lado e parte da mesma essência, a mostra traz à tona as dúvidas em torno doTempo, e como ele consegue agir causando incertezas e nos fazendo questionar muitas vezes a nós mesmos. O tempo revela o que parece, e muitas vezes não é. Causando surpresas na descoberta. O tempo desdobra-se em muitas horas para nos fazer esquecer e agi solitário na tarefa de não nos deixar lembrar. O que o tempo não lembrava, é que ele poderia ser vítima do seu próprio esquecimento.

Dessa forma a mostra fotográfica “Contrariando o Ego em meio à Dúvida do Tempo”, desenvolve-se a partir da criação de seis ambientes distintos, entre trabalhos de fotografia, instalação, objetos, Videdoc.Arte, que sugere por um passeio por caminhos que dialogam a todo instante com o visitante. “É difícil não se questionar e refletir em contato com obras que a todo momento conversam com o público, fazendo com que ele saia da zona de conforto, ou com que se entregue às obras, sendo uma extensão das mesmas, doando o seu tempo que passa a integrar o tempo da mostra”,  revela Salmeron.

Mônica Carvalho, setembro 2015.

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